Ninam

Organização Social

Duas mulheres indígenas. Foto: Victor Moriyama / ISA, 2020.

Indígenas Protestando. Foto: André Coelho / AFP, 2020.


As contribuições acadêmicas a respeito dos povos Ninam ainda são poucas. Nota-se que as pesquisas disponíveis os associam ao povo Yanomami, inclusive considerando seu auto reconhecimento como integrantes desse grupo étnico (LEITE, 2018). Por estarem inseridos na família Yanomami, o nome ‘Ninam’ pode significar “pessoa”, “gente” ou ser “humano”.


O grupo de falantes Ninam é subdividido entre três grande vertentes dialéticas: Ninam do Norte, Ninam Central e Ninam de Sul; e, ao todo, eles residem nos rios Uraricoera, Alto e baixo Mucajaí, Ericó e Saúba, no Brasil. Além disso, os Ninam que vivem na Venezuela habitam às margens do rio Paraguá.


A divisão dos dialetos na língua Ninam ocorreu por conta de diversos conflitos e circunstâncias que levaram a movimentos migratórios entre os povos. Primeiramente, houve a saída dos Ninam da Serra Parima para então viverem nas imediações do Rio Awaris. Após um período, os Ninam seguiram para o sul, lugar onde o Rio Awaris encontra o Rio Uraricoera. Sendo assim, depois de diversos conflitos internos entre eles, parte do grupo desceu para o Rio Uraricoera.


Em 1911, membros de um grupo Ninam que já viviam no alto do Rio Uraricaá, foram encontrados por Koch-Grünberg (1979-1982). Estes membros faziam parte dos antepassados dos Ninam do Norte. Deste modo, os grupos que ficaram na nascente do Rio Uraricoera cruzaram o rio para a margem do sul, o que deu origem aos Ninam central e aos Ninam do Sul.


De acordo com Leite (2018) a respeito de sua ocupação geográfico-espacial, habitam uma zona de fronteira oriental entre os rios Mucajaí, onde habitam os povos Ninam Central ou Xilixana, rio Uraricacaá e Ericó, onde habitam os Ninam do Norte ou Xiliana, e rio Paragua, na Venezuela. Constata-se também que foram os primeiros grupos Yanomami, que foram contatados por não indígenas por viver em uma região a qual também era utilizada como rota de expedição.

Considerações Linguísticas

Em vista dessa divisão e do distanciamento entres os grupos, originam-se então os três dialetos Ninam conforme descritos abaixo:

Comunidade Ninam do Alto Mucajaí. Foto: Edson Sato, 2010.

Alto Mucajaí em 1990, no auge da invasão garimpeira. Foto: Charles Vincent / ISA, 1990.

NINAM DO NORTE


Os Ninam do Norte, podendo serem chamados de Xiriana e possuindo aproximadamente 700 falantes nativos, são um grupo que vivem nas regiões de Saúba e Ericó, próximo do Rio Uraricoera.


O grupo falante desse dialeto integra o grupo que realizou o primeiro movimento migratório no início do século XX, alcançando o Rio Uraricaá. Logo, a partir dessa migração formaram-se as comunidades que hoje estão nas regiões de Saúba e Érico.


Em algum momento, parte desse grupo cruzou a fronteira entre Brasil e Venezuela, formando então as comunidades Ninam que vivem próximo ao Rio Paraguá, no país vizinho.


Quanto à ortografia desse grupo de falantes, ela foi desenvolvida pela própria comunidade a partir de diversas relações com agentes do contato, tais como os missionários da missão Boas Novas: o linguista Ernesto Migliazza e, também, a linguista Gale Goodwin Gomez.


Por conseguinte, na ortografia do dialeto dos Ninam do Norte, as principais características são marcadas pela adoção do grafema <tx> que representa foneticamente o valor de [ʤ] ou [ʧ]; e, além disso, a adoção dos grafemas <ë> e <ɨ> para a representação dos fonemas /ə/ e /ɨ/.

NINAM CENTRAL


No Início da década de 1990, houve uma divisão no grupo Ninam que vivia no Alto Mucajaí levando em consideração um aumento na taxa de crescimento da população (PETERS, 1998). Logo, cerca de 40 pessoas deste grupo migraram para as mediações do Rio Uraricoera, local onde estabeleceram-se próximos a um novo posto da Funai, localizado acima da Ilha de Maracá.


Sendo assim, o dialeto dos Ninam Central é falado pelos Yanomanis que vivem na região de Uraricoera, possuindo então, aproximadamente, um número de 140 falantes nativos no Brasil. Em vista disso, a característica linguística mais marcante deste dialeto é que, segundo os Ninam do Sul, o Ninam Central trata-se de uma variedade linguística falada de forma mais rápida, onde por vezes as palavras são cortadas ao final da fala.

NINAM DO SUL


No final do século XIX, por volta da década de 1920, o grupo Ninam do Sul vivia na região do Rio Uraricoera. Com os vários conflitos que ocorreram entre os grupos indígenas Ninam e Ye’ Kwana, os povos Ninam tiveram que se dividir entre as regiões do Alto e Baixo Mucajaí. Atualmente os povos do primeiro grupo são formados por sete comunidades em que descendem dos povos Pola Pek: Polapi, lhilimakoko, lasasi, Apohilipi, Hapokaxi, Lacapi e Kuíse.


Por fim, esses habitantes apontam variações dialetais entre os moradores do Kuíse, semelhantes às apontadas aos falantes do Ninam Central. Por fim, os povos do segundo grupo se organizam em três comunidades, sendo elas, Sikama´piú, ilha e Posto.

Bibliografia Recomendada

ALBERT, B.; OLIVEIRA, M. W. Novos “isolados” ou antigos resistentes?. In: n book: POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 2006/2010. Instituto Socioambiental, São Paulo, 2011, p. 5-8. Disponível em: <http://www.hutukara.org/images/stories/YANOMAMI_-_NOVOS_ISOLADOS_OU_ANTIGOS_RESISTENTES.pdf> Acessado em: 23/02/2022.

ANDRADE, F. N. A. Pluralismo médico e alternativas para Atenção à Saúde entre indígenas na cidade de Boa Vista/RR : perspectiva histórica e de análise dos itinerários terapêuticos. Orientador: Maxim Repetto. Dissertação (Mestrado em Sociedade e Fronteiras) – Centro de Ciências Humanas, Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, 2018. Disponível em: <http://repositorio.ufrr.br:8080/jspui/handle/prefix/397> Acessado em: 23/02/2022.

ANDRADE, K. V. A ética Ye'kuana e o espírito do empreendimento. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Instituto de Ciências Sociais, Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília, Brasília, 2007. Disponível em: <http://dan.unb.br/images/doc/Tese_080.pdf> Acessado em: 23/02/2022.

CARRERA, J. The fertility of words: aspects of language and sociality among Yanomami people of Venezuela Tese (PhD in Anthropology) - Univeristy of St. Andrews, United Kingdom, 2004. 363 f. Disponível em: <https://research-repository.st-andrews.ac.uk/handle/10023/1003?show=full> Acessado em: 23/02/2022.

FARIAS, G. S. Descrição e análise preliminar das construções de posse em Ninam, família Yanomami. Orientador: Thiago Costa Chacon. 2020. 61 f. Trabalho de conclusão de curso (Licenciatura em Letras Português) - Universidade de Brasília, Brasília, 2020. Disponível em: <https://bdm.unb.br/handle/10483/28092> Acessado em: 23/02/2022.

LABRADA, J. E. R.; CHACON, T.; MEDINA, F. Arutani (Venezuela and Brazil) – Language Snapshot. In: Peter K. Austin (ed.) Language Documentation and Description 17, 2020, p. 170-177. London: EL Publishing. Disponível em: <http://www.elpublishing.org/PID/193> Acessado em: 23/02/2022.

LEITE, T. V. S. Mudando de ideia: cristianismo evangélico e festas de caxiri entre os Ninam do Alto Mucajaí. MANA (UFRJ. IMPRESSO), v. 24, p. 216-246, 2018. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/mana/a/r5Fmw6859w7Sqnmc8sgBVnm/?lang=pt&format=html> Acessado em: 23/02/2022.

_____. Histórias sobre a captura do conhecimento com relação às tangas e miçangas entre os Ninam. In: LAGROU, Els.. (Org.). No caminho das miçangas: um mundo que se faz de contas. 1ed.Rio de Janeiro: Museu do Indio, 2016, v. 1, p. 205-208.


PETERS, J. F. Life among the Yanomami. Ontário: Broadview Press, 1998.


Imagem de capa:


Indigenous bow and arrow – Brazil. 1 Fotografia. 5184 x 3456 pixels. Disponível em: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/indigenous-bow-arrow-brazil-1605536911> Acessado em: 20/03/2022.

Data da última atualização: Março/2022