Waimiri Atroari

Organização Social

Indígenas sentados no chão. Foto: Marcos Wesley / ISA, 2016.

Foto: Adriano César Araújo / Folhapress, 2020.

Os povos indígenas Waimiri Atroari pertencem à família linguística Carib. Sua localização geográfico-espacial de habitação se dá entre os estados do Amazonas e Roraima, próximo dos rios Negro e Amazonas.


A história dos povos indígenas amazônidas foi marcada por conflitos e violências, conforme aponta Monte (1992), e os povos Waimiri Atroari também sofreram com esses acontecimentos tornando-se escravos e contribuindo forçadamente com a expansão da economia mercantil-extrativista de exploração da Amazônia advinda dos conflitos entre Portugal, Espanha e Holanda (SANTOS, 2008).


As análises sobre sua organização social levantadas aqui tomam como base os estudos de Bruno (2018). Segundo Bruno (2018), os habitantes das 41 aldeias já mapeadas anteriormente mostram ricos detalhes de seu dia-a-dia: atividades de pesca, caça, coleta de frutas silvestres, cuidado com a roça, plantio de tubérculos como mandioca, batata doce, macaxeira, cará e outras. Seus hábitos alimentares incluem também o consumo de proteínas animais da caça, como anta, macacos, porcos-do-mato e tantos outros animais silvestres.


A respeito de suas condições de habitação, Santos (2008) mostra a maloca comunal com “formato circular, avarandada, tendo em seu centro três esteios de sustentação feitos de acariquara, que podem medir, de acordo com o tamanho da maloca, até dez metros (SANTOS, 2008, p. 19)” e é ali e em seu entorno onde a vida social acontece, seja a culinária, as conversas, os ritos, as danças, entre outras.

Em Waimiri Atroari a palavra Maryba adquire o significado de canto, dança, música, ritual. Assim, esse termo é polissêmico (SANTOS, 2008). Essas significações são muito importantes para os Waimiri Atroari por ter um sentido de transmissão de conhecimentos ancestrais, espirituais, imateriais e cosmológicos. Em outras palavras, tahkome (antigo). Os cantores (eremy) é quem conduzem o povo na execução dos cantos. Essas pessoas são da mesma aldeia ou de aldeias próximas seguindo o calendário e costume Katyba (convite), ou seja, aquele que fará o convite conforme o teor da festividade.


No Brasil foram beneficiados pelo programa Waimiri Atroari, da ELETROBRAS em parceria com a FUNAI no período de 25 anos (1988-2013). Esse programa teve o objetivo de trazer ações de saúde, educação, proteção ambiental e produção agrícola à comunidade por conta dos efeitos negativos causados pela inundação do lago de Balbina, no estado do Amazonas (SANTOS, 2018, p. 32-33).

Foto: Bruno Santos / Folhapress, 2020.

Considerações Linguísticas

Conforme aponta Bruno (2018), muito embora o português venha sendo amplamente divulgado através de diferentes meios, como acesso ao rádio, visitas à capital do Amazonas, Manaus e o acesso à internet, o seu idioma - que recebe o mesmo nome que o de sua etnia – ainda é falado no cotidiano das aldeias, nas cerimônias, nos rituais.


A língua Waimiri Atroari adquire formas complexas e morfológicas típicas da família Caribe (BRUNO, 2018). Como características da morfologia nominal e sintática, Bruno (2018) aponta seis classes lexicais: “nomes (incluindo pronomes), adjetivos, verbos, advérbios, posposições e partículas (BRUNO, 2018, p. 288)”.

Bibliografia Recomendada

BAINES, S. G. O Territorio dos Waimiri-Atroari e O Indigenismo Empresarial. Ciencias Sociais Hoje, São Paulo, v. 1993, p. 219-243, 1993. Disponível em: <http://www.dan.unb.br/images/doc/Serie138empdf.pdf> Acessado em: 24/02/2022.


BRUNO, A. C. Palavras em Waimiri Atroari que se comportam como adjetivos - uma discussão preliminar. Revista Brasileira De Línguas Indígenas, v. 03, p. 10-17, 2020. Disponível em: <https://periodicos.unifap.br/index.php/linguasindigenas/article/view/5337> Acessado em: 24/02/2022.

_____. Aspectos da morfologia nominal Waimiri Atroari: uma discussão preliminar sobre o léxico referente ao corpo humano (Carib do Norte). LIAMES (UNICAMP), v. 18, p. 287-301, 2018. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/liames/article/view/8651307> Acessado em: 24/02/2022.

_____. “How can I write my language?” Linguistic Analyses and Language Revitalization: Lessons From Waimiri Atroari Syllable Structure. LIAMES (UNICAMP), v. 10, p. 85-99, 2010. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/liames/article/view/1510> Acessado em: 24/02/2022.

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FEARNSIDE, P. M. O Genocídio dos Waimiri-Atroari: um possível reconhecimento histórico. Manaus: Amazônia Real, 2018 (Avulsa). Disponível em: <https://amazoniareal.com.br/o-genocidio-dos-waimiri-atroari-um-possivel-reconhecimento-historico/> Acessado em: 24/02/2022.


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MONTE, P. P. Etno-história Waimiri-Atroari (1663 - 1962). Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1992. 179 f. Disponível em: <http://biblioteca.funai.gov.br/media/pdf/TESES/MFN-972.PDF> Acessado em: 24/02/2022.


SANTOS, E. A. G. Gênero e número nominal: proposta de ensino de português como segunda língua para os Waimiri Atroari. Dissertação (Mestrado em Lingüística) - Universidade de Brasília, Brasília, 2008. 97 f. Disponível em: <https://repositorio.unb.br/handle/10482/1420?mode=full> Acessado em: 24/02/2022.


SILVA FILHO, E. G. No rastro da tragédia: projetos desenvolvimentistas na terra indígena Waimiri-Atroari. Tessituras, v. 2, p. 293-314, 2014. Disponível em: <https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/tessituras/article/view/4816> Acessado em: 24/02/2022.


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Imagem de capa:


MORAES, K. Têxteis artesanais amazônicos tecem Balay Artesanato de nativos americanos, Brasil. 1 Fotografia. 9300 x 6200 pixels. Disponível em: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/amazonian-handwork-textiles-weave-balay-craftsmanship-1328484929> Acessado em: 20/03/2022.

Data da última atualização: Março/2022