Ingarikó
Organização Social
Indígenas sorrindo. Foto: Eliane Motta, 1984
Aldeia vista de cima. Foto: Ricardo Burg, 2001 .
Indígena preparando alimento. Foto: Ricardo Burg, 2001
Os Ingarikó são um grupo cuja língua pertence à família linguística Caribe, e é falado no Brasil, Venezuela e Guiana. Antigamente na Guiana, eram considerados como provenientes da mistura entre os povos Macuxi e Arekuna. Além disso, o etnônimo "Ingarikó" tem origem Macuxi e significa "Gente da mata espessa".
Juntamente aos Patamona e Akawaio habitam a área partilhada pelo Brasil, Venezuela e Guiana. Desse modo, ocupam a porção alta da Terra Indígena Raposa Serra do Sol localizada no nordeste do estado de Roraima, dentro do Parque Nacional Monte Roraima, no município Uiramutã.
No que diz respeito ao território brasileiro, Cruz (2008) menciona que o território onde habitam os Ingarikó é bastante privilegiado por conter sete áreas que compreendem rios, como o Panari, Uailã e Cotingo, bem como lavrados.
Ademais, no Brasil, os Ingarikó, Akawaio e Patamona, são ainda, classificados como Kapon (que possivelmente significa povo celeste, povo elevado ou povo das alturas) formando assim, um povo só. No entanto, os Ingarikó apresentam e reconhecem suas particularidades dialetais que os diferem dos outros dois grupos, e por esta razão buscam o reconhecimento do seu dialeto como língua.
Em Roraima, a população Ingarikó é composta por sete aldeias: Serra do Sol, Manalai, Pipi, Kumaipá, Mapaé/Caramãbatei, Sauparu, e Awendei/Canauapai, as quais vivem da caça, pesca e agricultura. Os traços únicos de sua religião, o Areruya (cantos e dança que compõe os ritos religiosos), os apontam como povos de cosmovisão e história particulares, e que mais tarde ganhariam contornos graças ao colonialismo missionário no século XVII em diante.
Sua distribuição geográfico-espacial os leva a se relacionarem com os Pemon frequentemente, em um sistema de trocas e até mesmo casamentos resultando em um complexo cultural Kapon-Pemon (AMARAL, 2014, p. 10).
Os estudos sobre os povos Ingarikó são variados, encontrando referências nos estudos de religião (AMARAL, 2019), economia (RODRIGUES, 2013), etnodesenvolvimento e educação (NOGUEIRA, 2013), conhecimento tradicional (FALCÃO et al., 2016), saúde (WALCZAK, 2017), considerações políticas (MLYNARZ, 2008; SARTORI, 2019; SARTORI e PEREIRA, 2020) e outros.
Considerações Linguísticas
Os Ingarikó estão inseridos dentro do grupo Kapon, que contempla outros subgrupos linguísticos, como o Akawaio e Patamona, bem como suas características socioculturais e religiosas. Eles também integram o grupo da família Caribe, sendo o termo Kapon um etnônimo que compartilham com os Pemon.
Segundo o que conta Cruz (2008), no que diz respeito às significações nos nomes das “malocas” (nome regional atribuído às aldeias), esses são topônimos que podem ou não ter segmentação morfológica, como por exemplo, Awentëi, que significa ‘lugar onde as águas fazem voltas’ e Mapa-ye’, que significa fruto-espécie de planta, pé ou local onde se encontram pés dessa planta’, entre outros (CRUZ, 2008, p. 124).
Por fim, nas aldeias Ingarikó há muitos falantes de português, assim como falantes do inglês e espanhol, desenvolvendo assim, o bilinguismo e até mesmo o plurilinguísmo, haja vista que devido ao forte contato com os povos vizinhos, assim, como o incentivo da escola, os jovens indígenas tem se mostrado cada vez mais interessados em outras culturas e línguas.
Bibliografia Recomendada
AMARAL, M. V. R. Os Ingarikó e a religião Areruya. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: <https://www.academia.edu/download/60737970/Tese_Virginia_201920190929-87600-1jec2ov.pdf> Acessado em: 21/02/2022.
_____. A caminho do mundo-luz celestial: o Areruya e os profetismos Kapon e Pemon. 2014. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: <https://zdocs.mx/doc/a-caminho-do-mundo-luz-celestial-o-areruya-e-os-profetismos-kapon-e-pemon-3ple2edm7019> Acessado em: 21/02/2022.
CRUZ, M. O. S. Os Ingarikó (Kapon) na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Revista Tensões Mundiais, v. 4, 6, p. 117-154, 2008. Disponível em: <https://revistas.uece.br/index.php/tensoesmundiais/article/view/773/691> Acessado em: 21/02/2022.
FALCÃO, M.T.; OLIVEIRA, S. K. S.; GALDINO, L. K. A. Conhecimento tradicional dos Ingarikó - Terra Indígena Raposa Serra do Sol - Roraima e as estratégias para sobrevivência. Revista da Casa da Geografia de Sobral, v. 18, p. 5-19, 2016. Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5633530> Acessado em: 21/02/2022.
MLYNARZ, R. B. Processos participativos em comunidade indígena: um estudo sobre a ação política dos Ingarikó face à conservação ambiental do Parque Nacional do Monte Roraima. 2008. Dissertação (Mestrado em Ciência Ambiental) - Ciência Ambiental, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. 154 f. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/90/90131/tde-19052008-110447/pt-br.php>. Acessado em: 22/02/2022.
NOGUEIRA, E. M. Etnodesenvolvimento e educação indígena: problemas e perspectivas para a Implantação do Etnoturismo na terra indígena Raposa Serra do Sol na TIRSS, Região Ingarikó - WÎI TÎPÎ. 2013. 144 f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola) - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2013. Disponível em: <https://tede.ufrrj.br/handle/jspui/3553> Acessado em: 21/02/2022.
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SARTORI, O. C. Implicações da invisibilização dos Ingarikó na unidualidade estabelecida pelo Parque Nacional do Monte Roraima. 2019. 156 f. Tese (Doutorado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia) - Universidade Federal do Amazonas, Manaus, 2019. Disponível em: <https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/7005> Acessado em: 22/02/2022.
SARTORI, O. C.; PEREIRA, H. S. O problema da parceria entre o Parque Nacional do Monte Roraima e o povo indígena Ingarikó na Amazônia setentrional. GEOSUL (UFSC), v. 35, p. 252-276, 2020. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/60242> Acessado em: 22/02/2022.
WALCZAK, E. Planejamento familiar na saúde indígena Ingarikó. Orientadora: Luzia Oliveira. 2017. 19 f. TCC (especialização em saúde indígena) – Universidade aberta do SUS, São Paulo, 2017. Disponível em: <https://ares.unasus.gov.br/acervo/html/ARES/12106/1/110590.pdf> Acessado em: 22/02/2022.
Imagem de capa:
Indigenous bow and arrow – Brazil. 1 Fotografia. 5184 x 3456 pixels. Disponível em: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/indigenous-bow-arrow-brazil-1605536911> Acessado em: 20/03/2022.
Data da última atualização: Março/2022