Taurepang

Organização Social

Os povos indígenas Taurepang são uma etnia pertencente à família Caribe. Ocupam uma área próxima ao município de Pacaraima, em Roraima, na tríplice fronteira com Venezuela e Guiana. De acordo com Pessoa (2006), no Brasil formam três aldeias: Boca da Mata, Sorocaima I e Bananal (Macaiapang) em uma região identificada como Alto Surumu. Na Venezuela habitam a região de Gran Sabana, a sudeste do estado de Bolívar nas aldeias San Francisco de Yuruaní, Maurak, Kavanayen, Kumarakapay e Kamoiran. Na Guiana habitam uma região identificada como Parima (PESSOA, 2006, p. 23-24).


Sua relação familiar é composta daquelas advindas da família nuclear e também dos “parentes”, ou seja, pessoas sem vínculo genealógico, mas que são aceitas como membros da família. A respeito de sua organização política, a figura do Tuxaua ou Capitão é a mais importante no que concerne à liderança e tomada de decisões em prol do bem coletivo de uma determinada comunidade Taurepang. Este pode ser da mesma etnia ou de outra que habita aquela aldeia (PESSOA, 2006).

Indígenas e os cuidados relacionados à saúde. Foto: Adriano Machado / Reuters, 2020.

Aldeia. Foto: Mário Vilela / Funai, 2020.

Pessoa (2006) também mostrará algumas peculiaridades a respeito das vivências religiosas de povos Taurepang. A autora dirá que duas doutrinas religiosas compõem este cotidiano indígena: a católica, com influência dos missionários capuchinos; e a adventista, de natureza protestante (PESSOA, 2006, p. 28). Algumas dessas influências religiosas externas apontam as comunidades Taurepang e Pemon como diferenciadas em práticas cotidianas em relação a comunidades de outras etnias ao seu entorno, como proibições de uso de álcool, mas também de danças e certos costumes de sua própria cultura, como o Parixara.


A respeito do comércio, possuem uma boa relação com os povos Pemon, com os quais incluem trocas e relações comerciais com a agricultura, artesanato, frutas, farinha de mandioca e outros. Esses produtos primeiro tem o objetivo de suprir as demandas de sua própria comunidade e então serem comercializados posteriormente. Além dessas atividades, outras foram registradas por Pessoa (2006), como a caça, pesca, cria de animais domésticos e comércio com municípios próximos (em relação àquelas comunidades no Brasil e Venezuela).

Considerações Linguísticas

O taurepang forma parte da família caribe, estando emparentado com os akawaio, macuxi, patamona, inkarigó e com um menor grau com os yekuana. A língua taurepang conserva grandes semelhanças com outras línguas caribes faladas muito especificamente nas fronteiras com a Venezuela e com a Guiana.

Assim, o bilinguismo se faz presente entre os indígenas Taurepang e isso se dá em grande parte por conta de sua localização geográfico-espacial, fato esse evidenciado nos falantes de inglês da Guiana, espanhol da Venezuela e português do Brasil, além de sua própria língua Taurepang e por vezes de línguas e dialetos de outros povos indígenas ao seu entorno.


Apesar disso, “O uso do Taurepang como primeira língua pode ser visto como uma expressão da vitalidade da língua materna no seio do grupo (PESSOA, 2006, p. 30)”. Pessoa (2006) evidencia ainda que a língua Taurepang é utilizada sempre no seio de sua comunidade, seja durante os cultos religiosos, no preparo da damurida, nos acontecimentos em torno do “barracão” (zona central de culinária e eventos sociais) e no dia-a-dia.

Bibliografia Recomendada

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MORAES, K. Têxteis artesanais amazônicos tecem Balay Artesanato de nativos americanos, Brasil. 1 Fotografia. 9300 x 6200 pixels. Disponível em: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/amazonian-handwork-textiles-weave-balay-craftsmanship-1328484929> Acessado em: 20/03/2022.

Data da última atualização: Março/2022