Wapichana

Organização Social

Indígena Wapichana. Foto: Tiago Orihuela.

Os Wapichana (ou Wapixana / Wapishana) são povos indígenas que habitam áreas no Brasil e na Guiana, em áreas próximas aos rios Branco e Rupununi, especificamente as regiões de Surumu, Taiano, Amajari e Serra da Lua. Machado e Pereira (2020) apresentam os dados do IBGE (2010), estimativas da SIASI/SESAI (2014) e Farage (1997) que apontam que naquele período existia em Roraima 55.922 indígenas, e desses, 9.441 pertencentes à etnia Wapichana. Já a respeito dos Wapichana que viviam na Guiana, existia em torno de 6.000 indivíduos aldeados e citadinos, que passaram historicamente por períodos de migração forçada por conta de escravidão, conflitos com fazendeiros e episódios de violência.


Outros grupos seriam relacionados aos Wapichana, como os Atorai, Amariba, Tapicari e Parauana, ao que o missionário Wirth nos anos trinta os apresentaria como grupos dialetais (FARANGE e SANTILLI, 1992). Os povos da etnia Paraviana, atingidos pela escravidão e aldeamento português no século XVIII, também seriam incorporados aos Wapichana (FARAGE e SANTILLI,1992).

Costa (2013) dirá que outros nomes foram citados na literatura em associação ao povo Wapichana, como os Wapityan, Wapitschana, Matisana, Uapixana, Vapidiana, Attaraye, Dauri, Atorayu, Vapidiana Verdadeiro, Aturaiu, Amaripás, Maopitian e Wapichiyana (COSTA, 2013, p. 28).

Farange e Santilli (1992) contam que durante o século XIX os Wapichana e também os Macuxi passariam por um recrutamento forçado de mão-de-obra, período esse também marcado por disputas por terra, extrativismo e pecuária sob o sangue indígena.

A respeito de sua organização social, Costa (2013) apresentará algumas características que compõem a vida indígena Wapichana, como habitar as malocas próximas aos rios e igarapés e desenvolver atividades coletivas como reuniões, festas e outros sociais no “malocão”, ao que o autor identificará como semelhante a um “amplo galpão coberto de palha de buritizeiro ou de inajá (COSTA, 2013, p. 30)”.

Organizam-se em função da autoridade do Tuxaua, um líder de características políticas com o objetivo de zelar pelo interesse do povo, como comércio, alimentação, celebrações e outros assuntos relacionados. Possuem técnicas tradicionais de caça, pesca e agricultura, principalmente àquelas que dizem respeito ao desenvolvimento de roças onde são cultivados o feijão, mandioca e outros insumos. Ademais, também movimentam sua economia com a pecuária, através da criação de animais como gados, ovinos e suínos (COSTA, 2013).

A respeito de sua culinária, adquire a mesma identificada nas comunidades indígenas na Amazônia, em especial em Roraima, ou seja, o Aluá, preparado com milho, o bejú, a farinha e as bebidas pajuaru e caxiri, preparadas com madioca, entre outros.

Maloca Grande. Foto: Nowaczyk, 2017.

Considerações Linguísticas

O Wapichana, segundo Giovannetti e Basso (2017), língua possui um sistema nominal nu, ou seja, sem determinantes foneticamente realizados, mas ao mesmo tempo composto por três itens fundamentais: dois demonstrativos e um gramatical (GIOVANNETTI e BASSO, 2017, p. 425).

Em todos esses elementos é possível observar as características que o tornam único, sejam elas a nível fonológico, sintático ou semântico. É possível perceber nas análises apontadas por Giovannetti e Basso (2017) que as pesquisas e definições em torno dessa língua a aponta ora como pertencente à família Maipuran, um subgrupo do tronco Arawakan, filiado ao supermacrotronco Equatorial (GIOVANNETTI e BASSO, 2017 apud Greenberg, 1956), ora como pertencente grupo Northern, na família Maipuran (GIOVANNETTI e BASSO, 2017 apud Payne, 1991). Em todo caso, é mais frequentemente atribuído unicamente à família Arawak.

Bibliografia Recomendada

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MORAES, K. Têxteis artesanais amazônicos tecem Balay Artesanato de nativos americanos, Brasil. 1 Fotografia. 9300 x 6200 pixels. Disponível em: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/amazonian-handwork-textiles-weave-balay-craftsmanship-1328484929> Acessado em: 20/03/2022.

Data da última atualização: Março/2022