Pemon

Organização Social

Foto: Felipe Irnaldo / ACNUR, 2020.

Habitantes de regiões da tríplice fronteira Brasil, Venezuela e Guiana, os Pemon assumem várias denominações e autodenominações, como Arekuna (Pemon do norte), Karamoto (regiões: Karamata e Urimán), Taurepang (regiões: Santa Elena de Uairén, Icabarú e Wonkén) e Makuxi (Pemon do sul) (LEVY, 2003).


Levy (2003) mostrará que essas diferenças etnonímicas são complexas, pois dependem de quem/onde se fala, além dos diversos etnônimos encontrados no histórico etnógrafo desse grupo.


As áreas verdes onde habitam são compostas geralmente dos rios, lavrados e florestas, tendo como pano de fundo as grandes montanhas rochosas conhecidas como tepuys.


Suas atividades se assemelham aos outros povos indígenas amazônicos, com o plantio na roça e outros conhecimentos de agricultura, caça, pesca, criação de animais, coleta de frutas e verduras nas florestas, entre outras. Alguns grupos também exercem atividades econômicas ligadas ao turismo (aqueles que vivem em áreas abertas para essa função), trabalho no garimpo e venda de artesanato.

A respeito de sua organização, esta depende de alguns fatores simbólicos no processo de pertença e identidade. Para Thomas (1982), os elementos sociais são organizados conforme seu grupo familiar e também localização geográfico-espacial, por exemplo, relação com sua comunidade e outras circunvizinhas. No grupo familiar, a sensação de pertença a um local específico de origem é marcada pelas palavras upata, tapui e yewük. Em todas essas, esse local não diz respeito a uma casa, local onde vive, mas comunidade ou região.

Levy (2003) falará também que os casamentos são realizados entre famílias, especificamente primos cruzados bilaterais. O homem passa a viver na casa de seu sogro e esposa, prestando-lhes serviços diversos, até a data de nascimento de seu primeiro filho. Neste momento, deverá construir sua própria casa, próximo a este local, sendo assim um dos primeiros princípios de autonomia. Ele poderá viver nesse local por um período até que terá autonomia suficiente para migrar para outras regiões à sua vontade.

Os Pemon são também responsáveis pelo zelo ambiental em torno do Monte Roraima. A seu respeito, encontram em seus mitos as lendas de seu povo, que apontam esse lugar como a mãe de muitas águas, uma simbologia ancestral.

Considerações Linguísticas

Os Pemon fazem parte da família linguística Caribe, e conforme falado anteriormente, falar sobre os Pemon implica falar sobre grupos como Arekuna, Karamoto, Taurepang e Makuxi. Em todos esses é possível encontrar diferenças fonológicas, gramaticais e lexicais que os diferencia.

A língua Pemon possui afixação simples, com características de fusão evidenciadas no exemplo abaixo:

Kaikuse = tigre

- da = desinência que marca sujeito do verbo transitivo

Pemón = homem

Eporipuë = encontrou

Kaikuse-da pemón eporipuë = o tigre encontrou o homem

Kaikuse pemón-da eporipuë = o homem encontrou o tigre (MARTINS e SANTOS, 2012, p. 5).


Ainda nas trilhas deixadas por Martins e Santos (2012), é possível visualizar que a língua Pemon incorpora prefixos e sufixos, flexão do verbo, infixação e até mesmo casos de circunfixação. As autoras, por fim, afirmarão o seguinte:

O pemón apresenta: substantivo, o qual flexiona em gênero, numero e grau; adjetivos, que podem se nominalizar dependendo de sua posição; pronomes; verbos; posposições (palavras vão sempre atrás das que são afetadas por elas), as quais parecem substituir as preposições usuais em outras línguas, como o português, por exemplo; advérbios; numerais (limitados e específicos), conjunções. O pemón não possui artigos (MARTINS e SANTOS, 2012, p. 8).


Importante mencionar, por fim, que os povos Pemon são multilíngues, falantes de seu próprio idioma, do espanhol, português e até mesmo outros idiomas indígenas.

Bibliografia Recomendada

ÁLVAREZ, J. Cláusulas relativas, nominalización y constituyentes en pemón (Caribe). Revista de Ciencias Humanas y Sociales. Nº.57. p. 114-143, 2008. Disponível em: <http://ve.scielo.org/scielo.php?pid=S1012-15872008000300008&script=sci_abstract> Acessado em: 27/02/2022.


GUTIÉRREZ, S. M. Gramática didáctica de la lengua pemón. Caracas: Vicariato Apostólico del Caroní; Universidad Católica Andrés Bello. 2001.


LEVY, G. C. Vozes inscritas: o movimento de San Miguel entre os Pemon, Venezuela. Dissertação (Mestrado em Antropologia) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2003. 161 f. Disponível em: <https://doi.org/10.47749/T/UNICAMP.2003.294353>. Acessado em: 27/02/2022.


LEWY, M. “Com o arquivo de volta ao campo?” A reinterpretação e recontextualização das gravações de Koch-Grünberg (1911) entre o povo Pemón. Música Em Contexto (UNB), v. XI, p. 251-288, 2017. Disponível em: <file:///C:/Users/Josu%C3%A9/Downloads/20064.pdf> Acessado em: 27/02/2022.


MAGALHÃES, D. O. A.; LIMA, M. S.; CORTEZ, J. S. O fenômeno do bilinguismo na comunidade Pemon de Kumarakapay: Imersão no processo de ensino-aprendizagem cultural e bilíngue. In: Vii Encuentro de Profesores y Académicos de Lengua Española: El Alumno como Protagonista. 2014. (Apresentação de Trabalho/Outra). Disponível em: <http://conferencias.ifrr.edu.br/index.php/VIIEPALE/VIIEPALE/paper/view/128> Acessado em: 27/02/2022.


MARTINS, A. C.; SANTOS, S. M. L.. Perfil morfossintático da língua pemón. Trabalho de Disciplina Morfossintaxe (Curso de Letras Português Espanhol) - Universidade Estadual de Roraima, 2012. 21 f. Disponível em: <https://www.academia.edu/33782365/ARTIGO_PERFIL_MORFOSSINT%C3%81TICO_DA_L%C3%8DNGUA_PEM%C3%93N> Acessado em: 27/02/2022.


SÁNCHEZ, B. El escalamiento hacia los Consejos Comunales en comunidades indígenas pemón de la Guayana Venezolana. Cuadernos Inter.c.a.mbio sobre Centroamérica y el Caribe, vol. 13, núm. 2, 2016. Disponível em: <https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=476953362007> Acessado em: 27/02/2022.


THOMAS, D. Order Without Government. University of Illinois, 1982.


Imagem de capa:


Beautiful Indigenous Headdress of Feathers. 1 Fotografia. 5184 x 3456 pixels. Disponível em: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/beautiful-indigenous-headdress-feathers-1406237087> Acessado em: 20/03/2022.

Data da última atualização: Março/2022